TRANSTORNO BIPOLAR
AS FACES DO HUMOR!
Há dias em que a euforia bate no céu. Em outros a depressão leva ao fundo do poço. A novidade sobre essa gangorra de emoções é que os cientistas confirmam a suspeita de que uma molécula presente no cérebro e no sangue pode apontar a predisposição para a doença (sim, é doença!) com boa margem de segurança
Como levar uma vida dupla? Uma hora a euforia toma conta e leva o organismo ao seu limite de excitação, até mesmo sexual. É energia que não acaba mais, a ponto de o sono tornar-se quase desnecessário. Perdese a capacidade de julgamento e a autocrítica e há quem se torne irritadiço. Para descrever esse estado de ânimo os médicos utilizam o termo mania. Ela é um dos extremos de uma doença caracterizada por uma profunda instabilidade de humor, o qual oscila entre esse estado eufórico intenso e o seu oposto, a depressão.
Sabe-se que essa é uma doença em grande parte determinada pelo histórico familiar. Uma criança que tem um dos pais com transtorno bipolar apresenta uma probabilidade de 15% a 20% de manifestar o mesmo problema. Um estudo, realizado com gêmeos idênticos, mostrou ainda que, se um deles tem a doença, o risco de o outro também vir a ser uma vítima é de 80%.
O trabalho mostrou que os bipolares têm menos BDNF no sangue do que as pessoas normais. "E notamos que, quanto menores os teores no sangue, maior a gravidade da doença", revela um dos autores do trabalho, o psiquiatra Flávio Kapczinski, responsável pelo Laboratório de Psiquiatria Experimental do hospital gaúcho. Como os níveis dessa molécula são ditados pela genética, a esperança é de que ela possa vir a ser um marcador da doença. O teste ainda é experimental, mas deverá se tornar rotina médica nos próximos anos.
Igual a todo distúrbio da mente humana, porém, a bipolaridade também é determinada pela maneira como lidamos com as adversidades. "Muitas vezes podese até herdar o gene que leva a uma predisposição, mas, sem um evento estressante, o transtorno não se desenvolve", afirma o psiquiatra Beny Lafer, professor da Universidade de São Paulo e coordenador do grupo de pesquisa em transtorno bipolar do Hospital das Clínicas da capital paulista. "Em caso de estresse emocional ou abuso de drogas, os riscos ficam de quatro a cinco vezes maiores."
O problema geralmente dá as caras no final da adolescência e no início da vida adulta, mas a meninada menor também é alvo. Na infância, aliás, não raro ele é confundido com distúrbio do déficit de atenção e hiperatividade. "Crianças diagnosticadas assim, mas que não respondem ao tratamento, podem ter na realidade o transtorno bipolar", garante Jair Soares. Descobrir a doença cedo e controlá-la o quanto antes ajuda seu portador a levar uma vida normal. É o que você verá nas páginas seguintes.
As oscilações do humor podem ser trágicas. Uma depressão prolongada, daquelas que chegam a durar meses ou mesmo anos, muitas vezes são o estopim de uma tentativa de suicídio. No outro extremo, o da mania, algumas semanas de crise são suficientes para pôr toda uma vida a perder. Relações são desfeitas e o dinheiro economizado por décadas, torrado em poucos dias. Não precisa ser assim. O.k., não há cura para o transtorno bipolar mas, como outras doenças crônicas, trata-se de um mal controlável.
No entanto, é bom que fique claro: nenhum remédio, sozinho, opera milagres. Ele pode restaurar o equilíbrio químico dentro do cérebro, mas e as emoções? Hoje, até os cartesianos mais ferrenhos já deixaram de considerar a mente e o corpo como estruturas absolutamente separadas. No caso do transtorno bipolar, diga-se, estão intimamente ligadas. E é aí que entra a psicoterapia, como peça fundamental do tratamento dos bipolares. "Aliás, não se trata de uma doença mental apenas, mas um mal sistêmico que afeta o indivíduo como um todo. Esse paciente requer uma equipe multidisciplinar", defende Flávio Kapczinski.
Prova disso é que, em uma das pesquisas realizadas pela equipe de Kapczinski, descobriu-se que os pacientes bipolares têm no cérebro uma quantidade menor de enzimas antioxidantes em comparação com o resto da população. Essas substâncias são essenciais para a manutenção da saúde ao evitar mutações genéticas que podem dar início ao câncer, por exemplo. "Não é por acaso que os bipolares têm maior incidência de morte por tumores, doenças cardiovasculares e diabete", acredita o psiquiatra. "Estamos em busca de métodos que permitam aos pacientes ficar livres não só das alterações do ânimo, mas de outros danos."
O SOBE-E-DESCE DAS EMOÇÕES
As fases eufóricas são chamadas de mania. As mais brandas, de hipomania. Podem durar de alguns dias até longos meses, assim como as fases da depressão. No gráfico abaixo, repare que, quanto mais perto do centro, mais equilibrado é o humor.
ALGUNS SINTOMAS:
- altos e baixos de humor.
- apatia ou tristeza sem motivo aparente.
- alegre e radiante ou irritável sem motivo aparente.
- impulsos exagerados em relação a comida, drogas, sexo ou compras.
- muda de planos e objetivos com extrema facilidade.
- demonstra instabilidade profissional ou nos relacionamentos afetivos.
- tende a se magoar ou a se irritar quando alguém o critica ou desagrada.
- torna-se agressivo por motivos fúteis.
- exige demais dos outros.
- alterna falas mansas (infantil) quando está dócil, com sérias (pai) sempre com lições e agressiva quando irritado.
- muito detalhista.
Oswaldo Galvão Filho 3 de setembro de 2010 às 13:50 Responder• Denunciar
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